Você Falou Comigo?

Você Falou Comigo?
É Que Eu Estava MESMO Te Ignorando!!

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Não é que eu seja tão amargo, que só saiba reclamar e remoer sentimentos péssimos,



é que só venho escrever aqui pra isso!
E depois, sei que preciso tanto disso quanto daquele último cigarro da noite, fumado na beira da janela quando o condomínio dorme e apagado na bandeja do ar condicionado, seu filtro indo pra dentro do pote hermético de remédios que se converteu em um conveniente porta-guimbas (ou bitucas, dependendo de onde veio seu Português! O meu é parte carioca, então pra mim é guimba, e sempre será!). A mais pura justificativa pra continuar vindo aqui, porém, não é nenhum vício que tento esconder de mim por vergonha ou por querer evitar um debate sobre parar de fumar. A verdade é que aqui me sinto bem em odiar, como em nenhuma outra ocasião nessa vidinha apagada que levo. Odiar quem quer que seja, sem precisar recorrer ao assassinato. Ainda.
Ainda não saí desse lugar onde vim parar, pois não tenho opçõe reais nesse mundo a não ser viver como minha mãe determina. Por mais clichê que sejam essas minhas colocações, ainda não posso sair de casa, pois não tenho nem como pagar o ônibus. E isso é fato.
Meses atrás, em um acordo verbal que mais tarde envolveu meu nome sendo utilizado pra compra de uma camionete de luxo por parte de alguém que não pode declarar todos os seus bens por medo de perder alguns na Justiça, um advogado pretensamente zen-Budista e espiritualista de classe média me contratou pra ser seu secretário/faz-tudo/office-boy de meio-período, o que aceitei na hora. Parecia uma opção viável pra quem fica a maior parte do tempo desempregado e sem a menor perspectiva de trabalho, em parte por não procurar com muita vontade (reconheço!). Ambiente tranquilo, poucas pessoas, chefe ausente e disfuncional (o que me garantia horas de ócio bem vindas e longe de casa) e o melhor de tudo: uma bicicleta nova, montada e retirada na loja, totalmente paga pelo dono da camionete. Uma troca bastante razoável, penso, considerando minhas opções na época, e o fato dessa pessoa ser um simplório que tem dinheiro sobrando. Todos ficaram felizes, certo?
Eu realmente preciso registrar certas coisas aqui: SIM, eu aceitei aquele acordo e recebi o que tinham me prometido; SIM, eu sabia que me envolver com gente assim provavelmente acabaria em decepção e amargura e; SIM, eu poderia ter caído fora bem antes da coisa toda ter transbordado. Mas parte de mim ainda gosta de pensar que sou pautado por conduta antiquada que me impede, na maioria das vezes, de fazer o que é melhor pra mim em detrimento de gente que nem sempre enxerga as coisas que mais me afligem nesse mundo. Eu achava que estava no rumo de coisas melhores na minha vida por ter ajudado um (quase) amigo, quando na verdade eu fui uma peça, um peão que serviu enquanto pôde a alguém que não teve a coragem ou a maturidade de me dizer que as coisas não poderiam durar daquele jeito. Fui ficando, em resumo.
Considerem um advogado branco de cidade pequena, que nunca saiu de casa, na verdade: trabalha em espaço cedido pelo pai, portanto não paga aluguel. Essa comodidade deve ter vindo bem a calhar quando esse menino estava casado e sua vidinha pequeno-burguesa estava encaminhada, sem maiores aspirações pra quem nasceu cheio de privilégios que nem percebe. Só que a então esposa deve ter percebido que naquele quintal nem grama cresceria mais, e saiu enquanto podia. O menino então se cercou de salvaguardas como o espiritismo capenga que a classe média parece adotar sempre que precisa justificar suas cagadas, e o ciclismo, como se pudesse pedalar pra escapar dos problemas de adulto que o mundo, invariavelmente traz pra todos nós. Ledo engano: sua ruína pessoal apenas refletia sua incapacidade de crescer por conta própria, sempre tendo a quem recorrer. Posso me identificar com isso, afinal eu mesmo sou um filho da mãe. A diferença é que dispenso platéia.
Numa tarde de tédio e serviço sem sentido, sentado diante de outro computador, fui advertido sem maiores cerimônias pelo pai do sujeito, alguém pelo visto não muito acostumado a pluralidade de opiniões ou respeito a individualidade, por causa de um fone de ouvido em local de trabalho. Isso mesmo, aparentemente o velho não suporta que alguém não aparente estar trabalhando, mesmo se considerarmos que eu já fazia mais coisas pra ELE do que pro filho dele, e que já fazia essas mesmas coisas há meses. Nunca ouvi uma sílaba desse sujeito, a não ser que fosse uma repreensão. Acredito cada vez mais que essa gente branca, desse lugar que tanto odeio, realmente me vê como uma ameaça. Falar comigo com se eu fosse um adolescente é tão ou mais ofensivo do que uma injúria abertamente racista ou uma brincadeira com meu sotaque, tão comuns comigo. E me repreender por causa de algo tão ínfimo, ao invés de me chamar de canto e discretamente me advertir, pelo visto é impensável pra esse velho. Fico pensando se ele realmente é assim com todos os que despreza, ou minha paranoia me faz pensar em racismo e intolerância o tempo todo. De qualquer modo, juntei minhas coisas e saí de lá logo em seguida, tremendo de raiva.
O filho? Sequer me contatou via rede social ou outro jeito. Apenas se omitiu como um bom burguesinho branco dessa cidade faria na mesma situação. Foi lamber suas feridas no colo da namorada, que deve estar pensando se valeu a pena sair da cidade dela pra viver com uma disfunção ambulante com pose de adulto. Se for esperta e tiver um mínimo de amor próprio, vai se dar conta de que esse menino é um fosso de fracassos e auto-indulgência. Vai sempre estar sob o teto que papai construiu.
E o mundo girou mais alguns dias, assim cheguei aqui. Minha jornada não ficou nem um pouco mais fácil com os dias folgados, e sigo em frente por pura falta do que fazer (ou por medo de fazer o que talvez já devesse ter feito, antes de envelhecer e ficar indulgente). Moro mal, quase nunca saio de casa, vivo sem dinheiro e penso muito, penso DEMAIS em morte. O tempo todo. Penso em morte e em sair daqui, essa dicotomia me mantendo numa