é que só venho
escrever aqui pra isso!
E depois, sei que preciso
tanto disso quanto daquele último cigarro da noite, fumado na beira da janela
quando o condomínio dorme e apagado na bandeja do ar condicionado, seu filtro
indo pra dentro do pote hermético de remédios que se converteu em um conveniente
porta-guimbas (ou bitucas, dependendo
de onde veio seu Português! O meu é parte carioca, então pra mim é guimba, e
sempre será!). A mais pura justificativa pra continuar vindo aqui, porém, não é
nenhum vício que tento esconder de mim por vergonha ou por querer evitar um
debate sobre parar de fumar. A verdade é que aqui me sinto bem em odiar, como
em nenhuma outra ocasião nessa vidinha apagada que levo. Odiar quem quer que
seja, sem precisar recorrer ao assassinato. Ainda.
Ainda não saí desse lugar
onde vim parar, pois não tenho opçõe reais nesse mundo a não ser viver como
minha mãe determina. Por mais clichê que sejam essas minhas colocações, ainda
não posso sair de casa, pois não tenho nem como pagar o ônibus. E isso é fato.
Meses atrás, em um acordo
verbal que mais tarde envolveu meu nome sendo utilizado pra compra de uma
camionete de luxo por parte de alguém que não pode declarar todos os seus bens
por medo de perder alguns na Justiça, um advogado pretensamente zen-Budista e
espiritualista de classe média me contratou pra ser seu secretário/faz-tudo/office-boy
de meio-período, o que aceitei na hora. Parecia uma opção viável pra quem fica
a maior parte do tempo desempregado e sem a menor perspectiva de trabalho, em
parte por não procurar com muita vontade (reconheço!). Ambiente tranquilo,
poucas pessoas, chefe ausente e disfuncional (o que me garantia horas de ócio
bem vindas e longe de casa) e o melhor de tudo: uma bicicleta nova, montada e
retirada na loja, totalmente paga pelo dono da camionete. Uma troca bastante
razoável, penso, considerando minhas opções na época, e o fato dessa pessoa ser
um simplório que tem dinheiro sobrando. Todos ficaram felizes, certo?
Eu realmente preciso
registrar certas coisas aqui: SIM, eu aceitei aquele acordo e recebi o que
tinham me prometido; SIM, eu sabia que me envolver com gente assim
provavelmente acabaria em decepção e amargura e; SIM, eu poderia ter caído fora
bem antes da coisa toda ter transbordado. Mas parte de mim ainda gosta de
pensar que sou pautado por conduta antiquada que me impede, na maioria das
vezes, de fazer o que é melhor pra mim em detrimento de gente que nem sempre
enxerga as coisas que mais me afligem nesse mundo. Eu achava que estava no rumo
de coisas melhores na minha vida por ter ajudado um (quase) amigo, quando na
verdade eu fui uma peça, um peão que serviu enquanto pôde a alguém que não teve
a coragem ou a maturidade de me dizer que as coisas não poderiam durar daquele
jeito. Fui ficando, em resumo.
Considerem um advogado
branco de cidade pequena, que nunca saiu de casa, na verdade: trabalha em
espaço cedido pelo pai, portanto não paga aluguel. Essa comodidade deve ter
vindo bem a calhar quando esse menino estava casado e sua vidinha
pequeno-burguesa estava encaminhada, sem maiores aspirações pra quem nasceu
cheio de privilégios que nem percebe. Só que a então esposa deve ter percebido
que naquele quintal nem grama cresceria mais, e saiu enquanto podia. O menino
então se cercou de salvaguardas como o espiritismo capenga que a classe média
parece adotar sempre que precisa justificar suas cagadas, e o ciclismo, como se
pudesse pedalar pra escapar dos problemas de adulto que o mundo,
invariavelmente traz pra todos nós. Ledo engano: sua ruína pessoal apenas
refletia sua incapacidade de crescer por conta própria, sempre tendo a quem
recorrer. Posso me identificar com isso, afinal eu mesmo sou um filho da mãe. A
diferença é que dispenso platéia.
Numa tarde de tédio e
serviço sem sentido, sentado diante de outro computador, fui advertido sem
maiores cerimônias pelo pai do sujeito, alguém pelo visto não muito acostumado
a pluralidade de opiniões ou respeito a individualidade, por causa de um fone
de ouvido em local de trabalho. Isso mesmo, aparentemente o velho não suporta
que alguém não aparente estar trabalhando, mesmo se considerarmos que eu já
fazia mais coisas pra ELE do que pro filho dele, e que já fazia essas mesmas
coisas há meses. Nunca ouvi uma sílaba desse sujeito, a não ser que fosse uma
repreensão. Acredito cada vez mais que essa gente branca, desse lugar que tanto
odeio, realmente me vê como uma ameaça. Falar comigo com se eu fosse um
adolescente é tão ou mais ofensivo do que uma injúria abertamente racista ou
uma brincadeira com meu sotaque, tão comuns comigo. E me repreender por causa
de algo tão ínfimo, ao invés de me chamar de canto e discretamente me advertir,
pelo visto é impensável pra esse velho. Fico pensando se ele realmente é assim
com todos os que despreza, ou minha paranoia me faz pensar em racismo e
intolerância o tempo todo. De qualquer modo, juntei minhas coisas e saí de lá
logo em seguida, tremendo de raiva.
O filho? Sequer me contatou
via rede social ou outro jeito. Apenas se omitiu como um bom burguesinho branco
dessa cidade faria na mesma situação. Foi lamber suas feridas no colo da
namorada, que deve estar pensando se valeu a pena sair da cidade dela pra viver
com uma disfunção ambulante com pose de adulto. Se for esperta e tiver um
mínimo de amor próprio, vai se dar conta de que esse menino é um fosso de
fracassos e auto-indulgência. Vai sempre estar sob o teto que papai construiu.
E o mundo girou mais alguns
dias, assim cheguei aqui. Minha jornada não ficou nem um pouco mais fácil com os
dias folgados, e sigo em frente por pura falta do que fazer (ou por medo de
fazer o que talvez já devesse ter feito, antes de envelhecer e ficar
indulgente). Moro mal, quase nunca saio de casa, vivo sem dinheiro e penso
muito, penso DEMAIS em morte. O tempo todo. Penso em morte e em sair daqui,
essa dicotomia me mantendo numa