Você Falou Comigo?

Você Falou Comigo?
É Que Eu Estava MESMO Te Ignorando!!

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Não é que eu seja tão amargo, que só saiba reclamar e remoer sentimentos péssimos,



é que só venho escrever aqui pra isso!
E depois, sei que preciso tanto disso quanto daquele último cigarro da noite, fumado na beira da janela quando o condomínio dorme e apagado na bandeja do ar condicionado, seu filtro indo pra dentro do pote hermético de remédios que se converteu em um conveniente porta-guimbas (ou bitucas, dependendo de onde veio seu Português! O meu é parte carioca, então pra mim é guimba, e sempre será!). A mais pura justificativa pra continuar vindo aqui, porém, não é nenhum vício que tento esconder de mim por vergonha ou por querer evitar um debate sobre parar de fumar. A verdade é que aqui me sinto bem em odiar, como em nenhuma outra ocasião nessa vidinha apagada que levo. Odiar quem quer que seja, sem precisar recorrer ao assassinato. Ainda.
Ainda não saí desse lugar onde vim parar, pois não tenho opçõe reais nesse mundo a não ser viver como minha mãe determina. Por mais clichê que sejam essas minhas colocações, ainda não posso sair de casa, pois não tenho nem como pagar o ônibus. E isso é fato.
Meses atrás, em um acordo verbal que mais tarde envolveu meu nome sendo utilizado pra compra de uma camionete de luxo por parte de alguém que não pode declarar todos os seus bens por medo de perder alguns na Justiça, um advogado pretensamente zen-Budista e espiritualista de classe média me contratou pra ser seu secretário/faz-tudo/office-boy de meio-período, o que aceitei na hora. Parecia uma opção viável pra quem fica a maior parte do tempo desempregado e sem a menor perspectiva de trabalho, em parte por não procurar com muita vontade (reconheço!). Ambiente tranquilo, poucas pessoas, chefe ausente e disfuncional (o que me garantia horas de ócio bem vindas e longe de casa) e o melhor de tudo: uma bicicleta nova, montada e retirada na loja, totalmente paga pelo dono da camionete. Uma troca bastante razoável, penso, considerando minhas opções na época, e o fato dessa pessoa ser um simplório que tem dinheiro sobrando. Todos ficaram felizes, certo?
Eu realmente preciso registrar certas coisas aqui: SIM, eu aceitei aquele acordo e recebi o que tinham me prometido; SIM, eu sabia que me envolver com gente assim provavelmente acabaria em decepção e amargura e; SIM, eu poderia ter caído fora bem antes da coisa toda ter transbordado. Mas parte de mim ainda gosta de pensar que sou pautado por conduta antiquada que me impede, na maioria das vezes, de fazer o que é melhor pra mim em detrimento de gente que nem sempre enxerga as coisas que mais me afligem nesse mundo. Eu achava que estava no rumo de coisas melhores na minha vida por ter ajudado um (quase) amigo, quando na verdade eu fui uma peça, um peão que serviu enquanto pôde a alguém que não teve a coragem ou a maturidade de me dizer que as coisas não poderiam durar daquele jeito. Fui ficando, em resumo.
Considerem um advogado branco de cidade pequena, que nunca saiu de casa, na verdade: trabalha em espaço cedido pelo pai, portanto não paga aluguel. Essa comodidade deve ter vindo bem a calhar quando esse menino estava casado e sua vidinha pequeno-burguesa estava encaminhada, sem maiores aspirações pra quem nasceu cheio de privilégios que nem percebe. Só que a então esposa deve ter percebido que naquele quintal nem grama cresceria mais, e saiu enquanto podia. O menino então se cercou de salvaguardas como o espiritismo capenga que a classe média parece adotar sempre que precisa justificar suas cagadas, e o ciclismo, como se pudesse pedalar pra escapar dos problemas de adulto que o mundo, invariavelmente traz pra todos nós. Ledo engano: sua ruína pessoal apenas refletia sua incapacidade de crescer por conta própria, sempre tendo a quem recorrer. Posso me identificar com isso, afinal eu mesmo sou um filho da mãe. A diferença é que dispenso platéia.
Numa tarde de tédio e serviço sem sentido, sentado diante de outro computador, fui advertido sem maiores cerimônias pelo pai do sujeito, alguém pelo visto não muito acostumado a pluralidade de opiniões ou respeito a individualidade, por causa de um fone de ouvido em local de trabalho. Isso mesmo, aparentemente o velho não suporta que alguém não aparente estar trabalhando, mesmo se considerarmos que eu já fazia mais coisas pra ELE do que pro filho dele, e que já fazia essas mesmas coisas há meses. Nunca ouvi uma sílaba desse sujeito, a não ser que fosse uma repreensão. Acredito cada vez mais que essa gente branca, desse lugar que tanto odeio, realmente me vê como uma ameaça. Falar comigo com se eu fosse um adolescente é tão ou mais ofensivo do que uma injúria abertamente racista ou uma brincadeira com meu sotaque, tão comuns comigo. E me repreender por causa de algo tão ínfimo, ao invés de me chamar de canto e discretamente me advertir, pelo visto é impensável pra esse velho. Fico pensando se ele realmente é assim com todos os que despreza, ou minha paranoia me faz pensar em racismo e intolerância o tempo todo. De qualquer modo, juntei minhas coisas e saí de lá logo em seguida, tremendo de raiva.
O filho? Sequer me contatou via rede social ou outro jeito. Apenas se omitiu como um bom burguesinho branco dessa cidade faria na mesma situação. Foi lamber suas feridas no colo da namorada, que deve estar pensando se valeu a pena sair da cidade dela pra viver com uma disfunção ambulante com pose de adulto. Se for esperta e tiver um mínimo de amor próprio, vai se dar conta de que esse menino é um fosso de fracassos e auto-indulgência. Vai sempre estar sob o teto que papai construiu.
E o mundo girou mais alguns dias, assim cheguei aqui. Minha jornada não ficou nem um pouco mais fácil com os dias folgados, e sigo em frente por pura falta do que fazer (ou por medo de fazer o que talvez já devesse ter feito, antes de envelhecer e ficar indulgente). Moro mal, quase nunca saio de casa, vivo sem dinheiro e penso muito, penso DEMAIS em morte. O tempo todo. Penso em morte e em sair daqui, essa dicotomia me mantendo numa

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

"Da Arte De Desfazer Amizades(...)", Parte 2.



Gente tóxica deveria ser contida.
Em minha experiência, tendo em vista a convivência com muita gente diferente e diversa, aprendi uma lição importante: você não vai a lugar algum sendo um total babaca insensível com os problemas alheios. Sua falta de empatia pode determinar o tamanho do seu ego, e isso é um forte indicador de uma personalidade repulsiva, egomaníaca, e, em última análise, um grandessíssimo de um merda. Enfim, uma pessoa tóxica.

Sabe do que estou falando? De QUEM estou falando? Sinceramente, se você chegou até aqui por me conhecer pessoalmente, você deve saber. Pode até ser que eu esteja falando de você. Você, que me trata de um jeito quando não tem ninguém ao redor, mas que faz questão de me diminuir na frente do outros, e que nunca teve a educação e a cortesia de me deixar falar livremente sem me interromper. Ou que sempre traz o mesmo discursinho hipócrita do cara  de periferia que sempre se viu como vítima, mas que tem aspirações de menino branco e rico que pode brincar em um balão de verdade. O cara sem qualificações nem ensino superior que acredita que pode dar palpites sobre trabalhos acadêmicos, e que não suporta ter suas pseudo-credenciais questionadas. O cara que posa de revolucionário, mas que não passa de um imbecil ditatorial e presunçoso. Arrogante, machista, covarde e mesquinho, que trata pessoas que mal conhece e que possam lhe render algum status como se fossem seus amigos pessoais, apenas pra parecer superior e mais importante do que eu. O tipo de gente de má índole que acredita que distribuir brindes para aqueles que considera dignos de sua atenção e respeito vai me deixar pra baixo, ou com inveja. Um cara tão cheio de si, tão estupidamente arrogante e iludido por seus próprios esqueminhas de ter algum status não merecido, que cria sua própria versão distorcida de meritocracia, vivendo sob a sombra de um irmão muito mais valoroso e honesto do que você.

Eu estou de pé, imbecil. Estou de pé e vou sobreviver pra contar a história do incompetente que quase destruiu o trabalho que outras pessoas puseram em movimento. Porque apesar de suas tentativas de centralizar, de dominar, de monopolizar, a fachada de “gente boa” que você tenta manter nunca se sustentou, e eu sei que mais gente concorda comigo que você é uma bactéria, não mais do que isso: perigoso até certo ponto, mas pode ser combatido com medidas  básicas de higiene.
Você não me mete medo. Mas também parei de ter pena. Só quero que você se foda em sua presunção e arrogância de adolescente que nunca cresceu e que pensa que subornar as pessoas com cerveja e camisetas te tornam um “cara legal”. Eu vou melhorar, vou viver bem, independente de você, e sei que vou ver o seu desabamento, pois não há estrutura que aguente uma fachada que não lhe cabe.
(fim da parte 2).

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Da Arte De Desfazer Uma Amizade Falsa, Ou Mandando Todo Mundo Se Foder Com Graça E Muito Rancor No Coração



Eu venho querendo escrever a muito tempo. São meses de lampejos de ideias, acontecimentos que inspiram postagens aqui, mas a preguiça é grande, quase sufocante. Não posso, porém, reclamar de falta de tempo, pois tempo é o que mais tenho nesses meses de morosidade e espera agonizante.
Hoje, eu testemunhei pela segunda vez neste mesmo ano, a morte de um ente querido. Depois de uma tarde de mormaço quente e lenta, passei o início de uma noite mais fresca esperando pelo veterinário que daria fim àquilo tudo, de forma rápida, mas nem por isso, ideal.  Ele chegou, ela estava deitada e muito ofegante no chão da varanda. Fiquei junto deles enquanto as injeções eram aplicadas, até acabar. Acabou.


Esse tipo de coisa parece combinar com a desolação que tem sido viver por aqui, nessa época tão desolada na qual me encontro.  É como um deserto ao meu redor.
E então, como era de se esperar, a onda de ódio me alcança, e passo a pensar em cada um em minha longa, muito longa lista de pseudo-amigos  que continuo a eliminar, e me dou conta que já venho me afastando de gente indigna a tempo suficiente pra ter esquecido das vozes de alguns desses idiotas. Infelizmente, nunca parecem terminar.


Caso em questão: em minhas tentativas de pertencer a algo que me faça pensar em outra coisa que não os meus problemas, decidi que deveria me integrar a pessoas com quem não tenho nada em comum a não ser o prazer de andar de bicicleta. E, pra variar, comecei escolhendo mal.
Ter convivido com esse grupo de pedal noturno foi de longe a pior experiência social que já tive, mesmo comparando ao grupo de RPG com quem andei há uns anos, gente falsa e cheia de preconceitos 
nos dois exemplos,  a diferença mais notável sendo que, entre os idiotas cheios de si do RPG, eu sabia que estava lidando com gente mimada e de dinheiro, ao passo que naquele grupo de pedal, eu constatei que em Maringá, aparência REALMENTE conta, e que tem gente ali que não passa de uma bicicleta cara (cara DEMAIS, às vezes!) com um fantoche sentado no selim. Gente baixa e pequeno-burguesa, coordenadas por idiotas imaturos que quase sempre deixam transparecer a que vieram, em seus esquemas de parecerem ativistas do bem-estar social ao se cercarem de patrocínios para suas camisetas, como abadás para seu trio elétrico de mediocridade, e do conveniente aval do poder público através de uma escolta de agentes de trânsito para seu passeio noturno, onde podem posar de defensores de uma proposta de mobilidade urbana não muito bem definida, enquanto tornam as ruas seguras para quem pode se dar ao luxo de pedalar pela cidade fora do horário comercial, mas sem necessariamente deixar de usar seu carro no dia-a-dia. Tudo muito conveniente e limpo, sem maiores questionamentos, que é como a casta superior de Maringá gosta. Contam ainda com o apoio de uma das, se não a maior rádio da cidade, que não por coincidência, também é uma grande disseminadora do que há de mais medíocre e insuportável em termos de música e mídia.  Eu estive com eles por mais de dois anos, me afastei, tentei retornar mas cheguei a conclusão de que não fazia o menor sentido querer dar o melhor de mim e colaborar com aquela farsa, quando não me sentia nem remotamente parte daquilo.  De que adiantava participar de um grupo que nunca me respeitou pelos meus valores e modo de ser, e que muitas vezes, sequer reconhecia meus esforços e opiniões?  Além disso, é preciso ressaltar um importante padrão de comportamento ali: bicicletas baratas, de segunda mão ou velhas demais, como a minha, servem de ranking para a avaliação silenciosa de todos, e o respeito e consideração que o grupo deveria dedicar a esse ciclista que não ostenta só acontece da boca pra fora. Novamente, as aparências aqui contam, e muito, no sentido de ser aceito em um determinado grupo. É sempre estranho pra mim constatar que certo tipo de gente dificilmente muda de atitude, embora muitas vezes tenha um discurso totalmente oposto, provando mais uma vez que, não importa o seu berço, ou o seu viés ideológico, elitistas sem caráter aparecem em qualquer lugar, época ou circunstância.
E é justamente sobre gente sem caráter, elitista e manipuladora que gostaria de desabafar a respeito, neste meu esquecido blog, meu melhor amigo. Talvez o único.

(Fim da Parte 1)

terça-feira, 17 de março de 2015

"Bem-Vindo Ao Mundo Real", Ou "Isso É O Que Realmente Penso De Você, Raphael!"

Domingo, dia 15/Março, 2015. Naquele dia, naquela noite após um dia péssimo e de mau agouro, escrevi no status de minha página pessoal da rede social mais popular desta época:

“Bela época pra se pensar em sair do país”, ou algo assim.

Aí, o pós-doutor que vive na Europa e que nunca teve um pingo de consciência política, muito menos ideológica, e que considera sociólogos e pessoas da área de Humanas “vagabundas”, o pós-doutor que já viveu de bolsa, mas que agora é muito bem pago pra lecionar e dar palestras até para Chefes de Estado, o pós-doutor que adora ostentar seus caros álbuns em quadrinhos e os incríveis shows de rock que já foi na Europa, o pós-doutor que sempre tem um comentário ácido sobre os gostos musicais e de leitura das outras pessoas, me posta o seguinte:

“- Bem-vindo ao mundo real!”

Depois de uma amarga troca de impressões, fiz um ataque pessoal e ele se sentiu visivelmente ofendido. Despediu-se com um lacônico “um abraço”, me acusando de não saber do que eu estou falando e eu, logo em seguida, desfiz a “amizade” com ele, que é como as pessoas adultas resolvem as coisas nesta geração. Começo a crer que nunca houve amizade alguma, com ou sem aspas.
O sentimento de amargor, de ressentimento, de solidão e isolamento por achar que não tenho mais amigos e por achar que os antigos amigos estão distantes demais, não só em termos geográficos, mas também emocionalmente, me deixam sem sono e com uma compulsão em fumar.
Esse é meu mundo real, pós-doutor.
Tem sido difícil o suficiente crescer e envelhecer em uma cidade, a mesma de onde você saiu e para onde vim por escolha de minha mãe, sem que antigos conhecidos façam escárnio da minha condição. A cidade que pelo visto cria cabeças como a sua, que não suportam variedade de ideias e que usam demais do conceito juvenil do “perco o amigo, mas não perco uma piada”. A cidade que volta e meia me lembra de que não vou construir coisa alguma por aqui. A cidade de onde você saiu, aparentemente para sempre, onde outros como você se reúnem em churrascos anuais para desfilarem sua prepotência e insipidez de garotos de elite que nunca cresceram, e que ainda se consideram universitários imaturos e de senso de humor perverso.
Esse é meu mundo real, onde as poucas pessoas com quem ando preferem fazer sempre as mesmas coisas, sair com as mesmas pessoas, ir aos mesmos lugares e se isolar em reduzidíssimos grupos pra beber cerveja nos fins de semana e passar metade do tempo olhando para as telas de seus celulares, como se a conversa não estivesse agradando, ou como se a companhia não fosse suficiente. No meu mundo real, eu não tenho amigos, na interpretação mais básica do termo: eu tenho muitos conhecidos com quem saio pra beber, e para conversas onde, frequentemente, sou interrompido por algum gracejo de alguém sem muita graça ou, novamente, pra alguém checar religiosamente o celular quando a conversa não o agrada.
O mundo real, onde amigos seus mantêm um contato tenso e neurótico entre si desde a faculdade através de uma estúpida lista de discussão, na qual o mérito, aparentemente, consiste em ser mais imbecil e deliberadamente estúpido. O mundo real onde continuo a ser um fracassado, pelos seus padrões, e um merda, um corrupto, um bandido, um subversivo e aproveitador, de acordo com os padrões de gente como você.
O mundo real, onde apesar do desprezo que você sente, certamente, por mim e por meus semelhantes, é o mesmo mundo real onde você nunca assumiu publicamente esse sentimento, me fazendo pensar que eu sempre tive um amigo em você. E é essa covardia que mais me corrói, feito uma úlcera. É essa certeza de que, a partir de agora, nunca mais vou olhar pro passado e me lembrar de você com respeito ou carinho, pois mesmo sendo uma pessoa de temperamento volúvel, também fui muito paciente e tolerante, minha vida toda, com pessoas como você, que, pelo visto, sempre me consideraram uma espécie de atração de circo fora da jaula, um selvagem educado para conversar e parecer uma boa pessoa, como vocês.
Nesse seu mundo real, eu não vou ser manso a vida inteira. Alguns de vocês, pós-doutor, deveriam se preocupar mais com que tipo de impressão vocês deixam no mundo ao seu redor.

sexta-feira, 6 de março de 2015

Grande Divisão

Nem bem começo a escrever, e já sinto preguiça. Todas as facilidades tecnológicas ao meu redor, a possibilidade de ser lido, e ainda assim é um fardo abrir uma página em branco e registrar alguns parágrafos. E pensar que na época dos cadernos de pautas apertadas e manchas de caneta esferográfica das páginas opostas, eu sonhava em ter mais fluidez e propósito.
É um dia chuvoso. Eu deveria estar fora de casa envolvido em pseudo-compromissos com pessoas com quem não deveria ter me envolvido. Ao invés disso fiquei em casa tendo pensamentos mórbidos.
A vida por aqui tem sido assim: pouco a ser lembrado e menos ainda que distinga um dia do outro. Tudo é o mesmo de sempre. Não consigo mais me lembrar com clareza de quando foi diferente.

Pouco tempo atrás eu conheci essa mulher. A mais interessante, melhor conversa que mantive com outro ser humano em vários anos. Do tipo que quase me instigou a esperar algo mais, algo... além. E, como sempre, a impressão durou pouco. Tenho um filtro tão cinzento e míope diante dos olhos que me impede de enxergar muito além, no meu futuro provável. As pessoas, todas elas, parecem apenas possibilidades não-realizáveis. Enfim, durante algumas horas em uma noite de domingo, compartilhamos uma mesa de bar e nos divertimos e rimos juntos e eu cheguei até a esquecer do que me assombra. Foi como se eu tivesse sido posto nesse mundo e crescido pra ser alguém comum, com todos os direitos a amar e interagir garantidos por um acordo tácito de privilégios aos quais não tive muito acesso. Foi como se eu fosse adulto, branco e feliz. Eu a agradeço, silenciosamente, por isso. Por ter me tirado de casa naquela noite, e principalmente, por ter me feito enxergar uma vida paralela onde me relaciono com pessoas mais saudáveis, em vez do triste círculo de homens supostamente maduros, de sexualidade dúbia e péssimo senso de humor. Mas, acima de tudo, agradeço pela companhia feminina, tão bem-vinda e valiosa pra esse cara feio e fracassado.
Estou entrando em outra fase de isolamento, de auto-comiseração e provável afastamento de pessoas e circunstâncias, algo que sempre me faz mal. Nunca saio dessas fases ileso, sempre me forço a aceitar coisas sobre a espécie humana que, se fosse menos inteligente ou menos empático, nem mesmo notaria. Poderia passar a vida satisfeito nessa zona fantasma onde sentimentos reais são abafados em nome da auto-afirmação dos outros em detrimento da minha. Onde me sujeito à companhia de quem tem carro pra me levar aonde nem sempre quero ir. Na verdade, sendo quem sou, sendo O QUE sou, posso fazer muito pouco a respeito disso, a não ser aceitar. Minha máscara permanece ajustada e firme, e ainda preciso dela.

À beira dos quarenta e dois anos, tenho pensado muito na morte. Em um momento único e sublime, quando fosse levado por uma correnteza suave, porém resoluta, através da Grande Divisão, até a Fonte de tudo que há. É capaz de todas as minhas melhores possibilidades estarem lá, de onde não se volta.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Os Embalos de Sábado A Noite, Mas Sem Os Embalos.

É o tipo de noite na qual eu queria muito ter companhia. Um sábado qualquer, como todos os sábados de minha vida, atualmente. Nessa idade e com esse arremedo de convívio social, ter lembranças de uma época em que isso era diferente torna tudo muito amargo, e ruim de engolir. Mas é a constatação, afinal: cheguei à aposentadoria.
A busca por oportunidades de emprego e por uma saída viável e saudável da situação em que me encontro me atraem inexoravelmente para este computador, seu monitor enorme e o fone de ouvido, testemunhas de minha crescente inadequação social. Participar de eventos sociais que aparentemente me distraem por algumas horas desse marasmo não tem mais sido tão eficaz, pois percebo o quanto as pessoas têm sido parcialmente atenciosas comigo apenas por uma questão de convenção social, ou pelo menos é como as coisas parecem, hoje em dia. Eu careço de diálogo real, e de gente interessante. Gente instintiva e essencialmente interessante, e não os fantoches com quem me relaciono atualmente. Eu não consigo apontar para nenhum conhecido com o qual queira estar, seja para beber cerveja ou simplesmente conversar. Não sei se devo atribuir esse fenômeno ao meu estado constante de frustração e decepção generalizada (depressão patológica) ou se só conheço gente idiota, o fato é que está difícil ser civilizado e simpático.
Pouco tempo atrás, em um desses frequentes acessos de raiva das pessoas que conheci outrora, tomei a decisão de romper laços com várias delas em uma rede social. A raiva acumulada por ler tanta idiotice não justificaria esse tipo de coisa, já que sempre fui muito complacente com gente burra. O que me chamou atenção mesmo foi que, ao contrário das outras vezes em que recorri a isso, dessa vez não tive remorsos. Estaria eu passando por mudanças, metamorfoses do ego que podem me levar a um novo patamar de misantropia e autocomiseração? Ainda não tenho dados para afirmar nada, mas creio que logo, logo, posso muito bem retornar ao estado em que estava, exatos vinte anos atrás, quando resolvi sair de minha varanda e conhecer pessoas.
Em minha mente, sempre retorno àqueles anos, na virada dos anos 80, quando acreditava que o punk rock e as HQs seriam a Nova Ordem Mundial, e que passaria os anos 90 em combate, seja contra máquinas assassinas, ou invasores extraterrestres. Minhas expectativas de futuro eram todas emprestadas do cinema ruim ao qual me submetia, em minha vidinha de adolescente feio e esquisito que morava em uma cidade que odeia. Leia-se: um estereótipo que vestia tão bem em mim quanto um velho casaco que não queremos jogar fora por ser muito, muito confortável e quentinho.
Em pouco tempo vou chegar aos 40 anos. Não haverá festa, nem pretendo alertar ninguém disso, e se puder vou me esconder de quem acha que vou estar muito à vontade e feliz comigo mesmo na ocasião. Pretendo desaparecer nessa data. E confesso que isso também não me agrada, sinceramente. Seria mais fácil se pudesse fazer todos esquecerem quem sou eu, e tudo a meu respeito em suas mentes.

Mas esse nem era o motivo dessa postagem. Eu ia escrever sobre outra coisa, sobre liberdade de expressão, ativismos de ocasião e sobre a natureza dos embates ideológicos. Mas esqueci o que ia dizer.

terça-feira, 8 de maio de 2012

A SUPOSTA DITADURA DO POLITICAMENTE CORRETO, ou QUEM NÃO TEM GRAÇA NÃO DEVERIA TENTAR SER ENGRAÇADO!




Quando penso no quanto somos indignos, na maior parte do tempo, de nossa capacidade de raciocínio e autogestão, a vida cotidiana reforça essa convicção. Passei boa parte de minha vida adulta tentando estabelecer boas relações de amizade com pessoas de diferentes opiniões sobre qualquer coisa, vindas de diferentes círculos socioeconômicos e com diferentes níveis de bagagem cultural, apenas para chegar aos trinta e nove anos sem poder considerar a maioria destas pessoas meus amigos ou amigas.
É como se minha própria ambição de ser tolerante me punisse com a indiferença e intolerância daqueles que nunca se esforçaram pra reconhecer o quanto eu prezei sua companhia, numa época em que eu precisava muito estabelecer um contato com diferentes pessoas e conhecer características a meu próprio respeito que me fizessem sentir um cidadão comum, e parte desta imensa multidão. Ledo engano.

Hoje, após um período de intenso afastamento de muita gente que nunca se importou comigo, noto que é fácil pra eles me descartarem, pois é assim que somos: descartáveis. E é exatamente por isso que eu mesmo iniciei o processo de descarte destas pessoas, em primeiro lugar.

Fui parte de um batalhão de estranhos, e hoje percebo que não gosto da idéia de sequer figurar nas memórias de gente que nunca gostou de mim, em primeiro lugar.


Um sorriso de escárnio é como
uma facada nas costas.
(Arte de Basil Wolverton)
Senso de humor é privilégio de poucos. É preciso ter inteligência, vivência e muita cultura pra poder desenvolver uma tolerância a tudo e a todos no sentido de podermos usufruir justamente desta capacidade intelectual de apontar o dedo pra todos ao redor e fazer graça de suas condições, pois estas mesmas condições são as nossas: também temos cor de pele, sexo, religião, estatura, aparência física, sotaque, condição social, profissões, e tudo o mais que faz com que um indivíduo seja passível de se tornar alvo de escárnio. Passei quase o mesmo tempo em que estava desenvolvendo minhas capacidades de interação social, me defendendo constantemente de ataques à minha pessoa por parte daqueles que se diziam meus amigos. Eu já fui considerado muitas coisas: de ponto de referência pop cultural (“enciclopédia ambulante” de “cultura inútil”) a amigo de ocasião de pessoas que nada tinham a oferecer em troca de minha companhia e boa vontade, a não ser pagar pela cerveja e me dar carona de volta pra casa, no final da noite. Assim como já fui padrinho de casamento de gente que na verdade sempre me tratou com condescendência, apoiados na ilusão de que eu sempre abaixaria a cabeça diante de suas ofensas, e piadinhas mal colocadas, em conversas informais onde eu dialogava enquanto gente muito baixa me esperava relaxar e fazia graça com qualquer característica minha, somente pra parecerem mais interessantes, mais inteligentes, ou simplesmente pra me fazer calar a boca. Talvez minha voz e fluência verbal incomode muito a essas pessoas, talvez elas sempre me odiaram, a verdade é que ainda não sei o motivo real dessa hostilidade que fermentava em suas cabecinhas de classe média burra e mal-amada pelos pais. Ainda me lembro com amargura de diversas ocasiões quando supostos amigos simplesmente atalhavam as conversas que estava tendo na ocasião apenas pra terem o prazer perverso e infantil de me interromperem e fazer graça com termos que uso normalmente, afinal de contas não vou desperdiçar meu bom português diante dos iletrados apenas para parecer mais humilde, isso seria idiotice.
O politicamente correto parece incomodar muito essas pessoas, e até entendo que possa haver uma espécie de busca incessante por reparação por parte de alguns grupos mal representados que se consideram vítimas eternas, mas chego à conclusão de que ofender por ofender é importante para os de pouca inteligência, diante da facilidade de um convívio social onde todos são considerados iguais, mas na mente destes mesmos de pouca inteligência, a arte de ofender pra parecer engraçado e espirituoso é o objetivo final, não importando as consequências muito menos a possibilidade de erodir suas relações sociais à ponto de um dia muitas dessas pessoas ofendidas simplesmente se afastarem sem aviso, deixando-os sem respostas, e sem alvos.



Ontem, subindo minha rua em direção à padaria, topei com um ex-amigo na calçada. Surpreendi-me virando a cara com a mesma facilidade com que ele fez o mesmo pra mim. Assim como me surpreendo remoendo um sentimento de ansiedade por nunca ter falado o que realmente pensava daquela relação de suposta amizade onde eu acabei me tornando o cicerone de alguém incapaz de criar e manter sua própria vida social. Éramos amigos, pensava eu, mas na verdade eu era um estepe, alguém com quem gastar tempo enquanto não arranjava algo melhor pra fazer. Pessoa criada pra ser um vencedor a qualquer custo, não conseguia interagir de forma alguma à não ser a competição; tudo pra ele é uma competição, é apenas assim que ele consegue se sentir no topo, quando está competindo. Se eu falasse de uma determinada ferramenta que tenho, respondia prontamente “que meu pai tem duas”, ou “a do meu pai é melhor”; se eu falasse com uma garota em um bar ou festa, ele prontamente aparecia e ficava ouvindo a conversa, como se eu fosse uma aberração de circo que soubesse falar, e assim que achava uma brecha, invadia a conversa e me fazia parecer um palhaço, ou idiota, algo que o fizesse sentir muito superior. E o pior era depois ouvir que se preocupava comigo e achava que eu estava “perdendo meu tempo”, que tinha que “tomar jeito nessa vida”. Como alguém assim pode ser considerado um amigo? Pior: como EU pude andar com alguém assim por tanto tempo?
Quando seu casamento acabou, eu cheguei a ser vagamente responsabilizado por “não estar lá” quando eles mais precisavam de “orientação”. Quer dizer, eu falhei em minhas supostas atribuições, mas ele nunca reconheceu que tratava sua esposa (alguém muito bacana, diga-se de passagem) como se ela fosse um animal de montaria. Sinceramente, é de se estranhar porque tantas mulheres jovens traem seus maridos e namorados, quando eles agem como se fossem feitores de escravos? Acho que não. Se a mentalidade de homens como esse cara percebe as mulheres com quem namoram e casam apenas como sistemas de apoio vivos para vaginas, acho justo que essas mesmas mulheres dêem o troco, procurando outros homens que as tratem melhor, ou até pior, somente pra provar um ponto: elas têm escolha, seus cornos de merda! Você não é a maior e melhor pica do mundo!

Gosto de pensar que minha ausência causou certo desconforto na vida de muitas pessoas que conheço. É ego trip de minha parte, sei disso, mas é como encaro essas idas e vindas do processo do convívio social. Assim como gosto de cultivar e manter as amizades verdadeiras e sinceras, baseadas na confiança e sinceridade mútuas, no carinho e respeito pela individualidade das pessoas, que é a certeza de que não importa quanto tempo eu permaneça longe de meus amigos, quando nos encontramos, é como se estivéssemos o tempo todo juntos, e nunca houvesse distância no tempo ou espaço entre nós. Desses eu nunca sinto falta pois nunca estamos afastados de verdade.