Você Falou Comigo?

Você Falou Comigo?
É Que Eu Estava MESMO Te Ignorando!!

terça-feira, 8 de maio de 2012

A SUPOSTA DITADURA DO POLITICAMENTE CORRETO, ou QUEM NÃO TEM GRAÇA NÃO DEVERIA TENTAR SER ENGRAÇADO!




Quando penso no quanto somos indignos, na maior parte do tempo, de nossa capacidade de raciocínio e autogestão, a vida cotidiana reforça essa convicção. Passei boa parte de minha vida adulta tentando estabelecer boas relações de amizade com pessoas de diferentes opiniões sobre qualquer coisa, vindas de diferentes círculos socioeconômicos e com diferentes níveis de bagagem cultural, apenas para chegar aos trinta e nove anos sem poder considerar a maioria destas pessoas meus amigos ou amigas.
É como se minha própria ambição de ser tolerante me punisse com a indiferença e intolerância daqueles que nunca se esforçaram pra reconhecer o quanto eu prezei sua companhia, numa época em que eu precisava muito estabelecer um contato com diferentes pessoas e conhecer características a meu próprio respeito que me fizessem sentir um cidadão comum, e parte desta imensa multidão. Ledo engano.

Hoje, após um período de intenso afastamento de muita gente que nunca se importou comigo, noto que é fácil pra eles me descartarem, pois é assim que somos: descartáveis. E é exatamente por isso que eu mesmo iniciei o processo de descarte destas pessoas, em primeiro lugar.

Fui parte de um batalhão de estranhos, e hoje percebo que não gosto da idéia de sequer figurar nas memórias de gente que nunca gostou de mim, em primeiro lugar.


Um sorriso de escárnio é como
uma facada nas costas.
(Arte de Basil Wolverton)
Senso de humor é privilégio de poucos. É preciso ter inteligência, vivência e muita cultura pra poder desenvolver uma tolerância a tudo e a todos no sentido de podermos usufruir justamente desta capacidade intelectual de apontar o dedo pra todos ao redor e fazer graça de suas condições, pois estas mesmas condições são as nossas: também temos cor de pele, sexo, religião, estatura, aparência física, sotaque, condição social, profissões, e tudo o mais que faz com que um indivíduo seja passível de se tornar alvo de escárnio. Passei quase o mesmo tempo em que estava desenvolvendo minhas capacidades de interação social, me defendendo constantemente de ataques à minha pessoa por parte daqueles que se diziam meus amigos. Eu já fui considerado muitas coisas: de ponto de referência pop cultural (“enciclopédia ambulante” de “cultura inútil”) a amigo de ocasião de pessoas que nada tinham a oferecer em troca de minha companhia e boa vontade, a não ser pagar pela cerveja e me dar carona de volta pra casa, no final da noite. Assim como já fui padrinho de casamento de gente que na verdade sempre me tratou com condescendência, apoiados na ilusão de que eu sempre abaixaria a cabeça diante de suas ofensas, e piadinhas mal colocadas, em conversas informais onde eu dialogava enquanto gente muito baixa me esperava relaxar e fazia graça com qualquer característica minha, somente pra parecerem mais interessantes, mais inteligentes, ou simplesmente pra me fazer calar a boca. Talvez minha voz e fluência verbal incomode muito a essas pessoas, talvez elas sempre me odiaram, a verdade é que ainda não sei o motivo real dessa hostilidade que fermentava em suas cabecinhas de classe média burra e mal-amada pelos pais. Ainda me lembro com amargura de diversas ocasiões quando supostos amigos simplesmente atalhavam as conversas que estava tendo na ocasião apenas pra terem o prazer perverso e infantil de me interromperem e fazer graça com termos que uso normalmente, afinal de contas não vou desperdiçar meu bom português diante dos iletrados apenas para parecer mais humilde, isso seria idiotice.
O politicamente correto parece incomodar muito essas pessoas, e até entendo que possa haver uma espécie de busca incessante por reparação por parte de alguns grupos mal representados que se consideram vítimas eternas, mas chego à conclusão de que ofender por ofender é importante para os de pouca inteligência, diante da facilidade de um convívio social onde todos são considerados iguais, mas na mente destes mesmos de pouca inteligência, a arte de ofender pra parecer engraçado e espirituoso é o objetivo final, não importando as consequências muito menos a possibilidade de erodir suas relações sociais à ponto de um dia muitas dessas pessoas ofendidas simplesmente se afastarem sem aviso, deixando-os sem respostas, e sem alvos.



Ontem, subindo minha rua em direção à padaria, topei com um ex-amigo na calçada. Surpreendi-me virando a cara com a mesma facilidade com que ele fez o mesmo pra mim. Assim como me surpreendo remoendo um sentimento de ansiedade por nunca ter falado o que realmente pensava daquela relação de suposta amizade onde eu acabei me tornando o cicerone de alguém incapaz de criar e manter sua própria vida social. Éramos amigos, pensava eu, mas na verdade eu era um estepe, alguém com quem gastar tempo enquanto não arranjava algo melhor pra fazer. Pessoa criada pra ser um vencedor a qualquer custo, não conseguia interagir de forma alguma à não ser a competição; tudo pra ele é uma competição, é apenas assim que ele consegue se sentir no topo, quando está competindo. Se eu falasse de uma determinada ferramenta que tenho, respondia prontamente “que meu pai tem duas”, ou “a do meu pai é melhor”; se eu falasse com uma garota em um bar ou festa, ele prontamente aparecia e ficava ouvindo a conversa, como se eu fosse uma aberração de circo que soubesse falar, e assim que achava uma brecha, invadia a conversa e me fazia parecer um palhaço, ou idiota, algo que o fizesse sentir muito superior. E o pior era depois ouvir que se preocupava comigo e achava que eu estava “perdendo meu tempo”, que tinha que “tomar jeito nessa vida”. Como alguém assim pode ser considerado um amigo? Pior: como EU pude andar com alguém assim por tanto tempo?
Quando seu casamento acabou, eu cheguei a ser vagamente responsabilizado por “não estar lá” quando eles mais precisavam de “orientação”. Quer dizer, eu falhei em minhas supostas atribuições, mas ele nunca reconheceu que tratava sua esposa (alguém muito bacana, diga-se de passagem) como se ela fosse um animal de montaria. Sinceramente, é de se estranhar porque tantas mulheres jovens traem seus maridos e namorados, quando eles agem como se fossem feitores de escravos? Acho que não. Se a mentalidade de homens como esse cara percebe as mulheres com quem namoram e casam apenas como sistemas de apoio vivos para vaginas, acho justo que essas mesmas mulheres dêem o troco, procurando outros homens que as tratem melhor, ou até pior, somente pra provar um ponto: elas têm escolha, seus cornos de merda! Você não é a maior e melhor pica do mundo!

Gosto de pensar que minha ausência causou certo desconforto na vida de muitas pessoas que conheço. É ego trip de minha parte, sei disso, mas é como encaro essas idas e vindas do processo do convívio social. Assim como gosto de cultivar e manter as amizades verdadeiras e sinceras, baseadas na confiança e sinceridade mútuas, no carinho e respeito pela individualidade das pessoas, que é a certeza de que não importa quanto tempo eu permaneça longe de meus amigos, quando nos encontramos, é como se estivéssemos o tempo todo juntos, e nunca houvesse distância no tempo ou espaço entre nós. Desses eu nunca sinto falta pois nunca estamos afastados de verdade.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

[registro de atividades 009.5823/4: cão, capa de chuva]


Strange Horizons

Hoje à noite estive em meu quintal. Olhei o céu como Adam Strange faria, e nenhum raio Zeta me resgatou daqui, pra uma vida mais digna e cheia de aventuras em algum planeta incrivelmente parecido com este, porém melhor. Fiquei lá por um tempo, ouvindo BÖC e os trilhos que levam ao inferno, bebendo e fumando.
Semana cheia, essa. Casamentos de amigos, velhos desafetos no mesmo ambiente que eu, e preguiça de terminar o que mais preciso pra poder reagir, enquanto ainda posso. Meu trabalho de conclusão de curso permanece intocado há um mês, como se fosse se escrever sozinho, e como se eu não precisasse me preocupar com ele. Duplo engano.
Agora escrevo ao lado de uma janela entreaberta e o ar frio de meu quintal compensa o excesso de agasalhos que estou vestindo.
Adam Strange em sua vigília pelo Raio Zeta.

Tendo redescoberto o prazer simples de andar de bicicleta pelas ruas, penso constantemente em pedalar mais. Em pedalar pra bem longe, sem previsão de voltar. Me surpreendo com paisagens familiares, apreciadas de relance durante meus passeios exploratórios noturnos, enquanto presto atenção no trânsito perigoso dessa cidade. À noite, alguns motoristas ficam ainda mais idiotas e insensatos, pois foram criados para isso. Olhares de desdém ou escárnio de gente gorda e bêbada, me olhando das mesas de bar nas calçadas enquanto circulo pela rua em frente a eles reforçam minha convicção de que preciso encerrar esta fase de minha vida, repleta de péssimas memórias e hábitos ruins.

Durmo mal todas as noites, as costelas e coluna doem muito de tanto me encolher. A TV se revela um velho vício do qual não consigo largar de vez, mesmo sabendo que a programação predominantemente ruim não vai me trazer sonhos melhores, ou mesmo uma distração saudável. Ainda assim vejo TV mais do que leio, como um doente dos pulmões que nunca parou de fumar. Sitcoms reprisados à exaustão, documentários que não acrescentarão muito à minha bagagem cultural e filmes cada vez mais tolos parecem ter se tornado uma espécie de dieta que me mantém gordo e complacente, só que na mente. Eu espero que este inverno seja rigoroso o bastante pra me tirar dessa letargia tóxica e debilitante. O frio me torna melhor, mais afiado e  inteligente, como uma arma viva. Um ronin.

Vou voltar a ler, nem que sejam livros emprestados da biblioteca pública. E vou continuar a pedalar, se não por escolha, por esporte.

O mês de maio mal começou e o supermercado já está decorado para as festas juninas. A antecipação que permeia tudo já está em níveis ridiculamente óbvios há anos, e ainda me causa suspeitas. Será que todos perceberam alguma coisa que eu ignoro completamente, e estão com pressa por causa dessa coisa? Que pressa é essa?


Eu espero pelo Raio Zeta que vai me levar daqui. Sem pressa.