Hoje, assim como ontem, foi um dia de fúria silenciosa. Ou nem tanto.
Andei quatro quadras até o ponto de ônibus. Já tinha desistido de ir viajar, mas depois lembrei que já tinha até comprado a passagem!! Que tipo de resolução pode se manter quando meu alter-ego passado já tomou decisões por mim? Como posso confiar em minhas decisões se preciso desistir delas por causa de ações passadas?
Só tinha duas bagagens, mas já é o bastante pra me deixar puto por não ter carro, e odiar todos os que tem.
O ponto de ônibus é na frente de um necrotério, o que serve pra ilustrar meu humor nas tardes de sol. Pra piorar, uma garota ficou puxando conversa, dessas que têm problemas mentais visíveis, e eu tentando ficar em silêncio... Imagino que a família dela deva deixar que saia sozinha justamente pra que ela ache outras pessoa pra conversar, mas juro que não dei a menor brecha e ainda assim ela insistiu pra que eu pelo menos olhasse pra ela.
Quando ela me mostrou um relógio, perguntando alguma coisa, eu me levantei bruscamente e saí dali, seguindo pro outro ponto, rua acima. É CLARO que o ônibus estaria chegando ali bem na hora em que eu estivesse ainda longe, e tive de correr com as bolsas...
Entrei, e o motorista/cobrador (trabalhador característico nessa cidade, obrigado a desempenhar duas funções, e onde o transporte público é um monopólio de canalhas, que exploram seus empregados assim como seus usuários, jogando uns contra os outros) disse que o dinheiro não era suficiente. Paguei a diferença, e joguei o resto das moedas pela janela.
Desci na Rodoviária mais mal feita que conheço, e segui pela ridícula rampa que dificulta o acesso de pedestres com bagagens até a outra rampa, que leva até as plataformas. Faltava pouco pro ônibus chegar, esse martírio recorrente em que me encontro, por vontade própria (NOVAMENTE)!!!
Em Londrina, calor. E mais ônibus cheios.
Assisti a uma excelente aula, naquela turma de estranhos. É uma sensação mista de curiosidade e tédio, estar junto de pessoas que você não conhece, não está interessado em conhecer, mas pelo simples fato de estarem onde você está, já denotam um interesse comum. Enfim, a aula acabou e cruzei aquele campus pela alameda central, uma faixa larga de concreto com escadas e paisagens arborizadas, que se intercalam com blocos de tijolos e metal pintado de laranja. À noite, é deserto e fresco, e muito calmo. Queria ficar por lá durante mais tempo, invisível, sem ser incomodado. Assombrando os passantes ocasionais, feito uma lenda urbana macabra. Mas tive de me contentar em ser a vítima de um bando de vira-latas, possíveis mascotes dos vigilantes indolentes daquele campus enorme e dilapidado. Saí do campus por um portão lateral, e logo estava na ruela dos condomínios que exploram os pais dos estudantes, e dos bares que exploram a distância dos bares do centro. Mas é um ambiente estranhamente agradável, com garotas bonitas em grandes grupos, calouros bebendo de pé nas calçadas, um ou outro carro com um som muito alto, e televisão.
Entrei, pedi um litro de cerveja, e fiquei lá por cerca de uma hora. Depois subi pro meu alojamento de favor, e demorei pra dormir.
De manhã, fiquei sabendo que não haveria carona de volta, então mais uma tarde de ônibus cheios, caminhadas com bagagens e esperas. Muita espera. E muitos palavrões entre os dentes. Uma garota tentou me vender uma assinatura de sei lá o que, e disse a ela pra nem tentar, pois eu "não estava lá".
(Fico impressionado como atraio a atenção de qualquer um quando quero ficar em silêncio e não quero ser notado. Devo ter uma espécie de aura. Talvez eu brilhe no escuro.)
A dona da rota entre as duas cidades, uma empresa conhecida por sua mediocridade nos serviços oferecidos, tem duas linhas entre Maringá e Londrina: uma é direta, ou sem paradas no caminho; a outra é, simplesmente, como um trem devia ser, parando nas estações de cada cidade ou conexão. Mas é um ônibus, o que significa que minutos preciosos são perdidos, entrando e saindo de cidades que nem deveriam constar do mapa, como Mandaguari ou Cambira, pra deixar/pegar uma, duas pessoas.
A viagem que costumo fazer em hora e meia, levou pouco mais de quatro. Meu dinheiro, que era contado, acabara em Londrina mesmo, e tive de incomodar um conhecido meu pra me dar uma carona até minha casa, quando cheguei na Rodoviária.
Em casa, comi feito um zumbi num berçário. Fome é sempre devastadora quando estou frustrado. Nem sei como não engordo, já que vivo frustrado. Acho que poderia ser pior, poderia ser gordo E frustrado.
Não sei o que vou fazer nesse fim-de-semana. Queria ficar num lugar bem quieto, sem falar nada, nem ouvir vozes humanas. Estou num período de busca pelo silêncio. Às vezes me esqueço dele, de como é confortável e limpo. Até a luz parece mais clara no silêncio.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário