De qualquer modo, queixas à parte, tem sido uma época divertida, o que ameniza as dificuldades e falta de perspectivas deste ano horrível que tenho passado. O programa é leve, repleto de conversas e músicas diversas, humor e comentários sarcásticos por parte dos três integrantes. Nem reclamo de ter de pesquisar um pouco para levar material, pois isso me faz pensar menos naquilo que tem me incomodado de verdade, e distrai minha atenção do que vou enfrentar em pouco tempo.
Recentemente, numa conversa com jornalistas que estavam de passagem por aqui, comentei sobre uma característica marcante da assim chamada "cena cultural independente" (ênfase nas aspas!) desta cidade, e sua suposta repercussão nos meios similares, país afora. Essa característica me parece digna de nota devido ao puro teor elitista e sectário que aplica à "cena", que é a tendência das bandas de rock, sobretudo, de serem formadas por pessoas oriundas da mesma classe social privilegiada, o que determina que essas iniciativas apareçam mais em função do poder aquisitivo de seus integrantes do que do talento e esforço pessoal em si. Resumindo: o rock enquanto hobby de filhotes da classe média que acreditam-se talentosos em sua rebeldia de shopping center, e conhecimento musical adquirido online.
É comum por aqui a noção de que "a cena não vai pra frente porque não há união." Ora, se interpretarmos a "cena" como um reflexo do estrato social em que foi gerada, é natural que não haja união! E depois, certas pessoas cujos rumos, escolhas, e cujas oportunidades que lhes foram presenteadas na vida, ganharam um nível de sucesso profissional e ascenção social muito superiores do que a maioria, acabam por se considerar dignos do luxo de exercerem seus hobbys de forma mais efetiva, e se propõem a exibir seu suposto e auto-proclamado "talento" (novamente, ênfase nas aspas) para um público que nunca teve senso crítico apurado, no que diz respeito à identificação de tendências e ideologias que possam contribuir para o crescimento intelectual do indivíduo. Em suma, uma geração de auto-proclamados artistas, medíocres por excelência, e que encontram público cativo entre pessoas tão ou até mais medíocres do que eles mesmos.
http://upload.stripgenerator.com/stripgenerator/strip/27/60/81/00/00/full.png
Sendo crias de uma classe média que nunca os julga desfavoravelmente, e tendo pais que aplaudem cada ato de "rebeldia criativa" de seus filhotes brancos e de sólida formação cristã, essa mesma geração de não-entidades, pautada pela auto-indulgência e falta crônica de uma cultura geral, se veste confortavelmente de seus estereótipos favoritos (algo que possam despir facilmente quando é necessário e oportuno) e vão às ruas reivindicar o que em outras épocas era a trincheira daqueles realmente talentosos e excluídos de todo um contexto de produção cultural devido à diversos fatores, como etnia, poder aquisitivo, acesso aos meios de comunicação, etc.
Não contentes com todas as facilidades que seus papais e mamães (e amigos de papai e mamãe) lhes garantiram na hora de passar de ano, dirigir carros antes da idade, entrar e sair da universidade sem maiores complicações e posições de destaque em empresas ou quaisquer outros empreendimentos, uso de drogas e álcool sem a menor moderação, essa classe média do rock também é fortemente caracterizada por uma total incapacidade de ouvir e/ou aceitar críticas, respondendo à elas (caso apareçam) de formas muitas vezes até exageradas, como ameaças e agressões físicas, além das costumeiras e pueris agressões verbais. De que adianta tanta educação (formal) e seus diplomas, seu orgulho de serem filhos ou netos de imigrantes europeus ou japoneses, seu suposto talento artístico (sobretudo musical), se jamais entenderam uma primordial característica humana, a sensibilidade estética: você pode até estar 100% certo de que o que faz é bom e lindo, mas nem todos vão concordar com você, pois não tiveram a mesma formação que você, e muitas vezes, são mais talentosos que você, independente dos seus instrumentos caros, que você não toca direito mas adora exibir para seus coleguinhas de mediocridade.
(Fim da parte 1...)
Recentemente, numa conversa com jornalistas que estavam de passagem por aqui, comentei sobre uma característica marcante da assim chamada "cena cultural independente" (ênfase nas aspas!) desta cidade, e sua suposta repercussão nos meios similares, país afora. Essa característica me parece digna de nota devido ao puro teor elitista e sectário que aplica à "cena", que é a tendência das bandas de rock, sobretudo, de serem formadas por pessoas oriundas da mesma classe social privilegiada, o que determina que essas iniciativas apareçam mais em função do poder aquisitivo de seus integrantes do que do talento e esforço pessoal em si. Resumindo: o rock enquanto hobby de filhotes da classe média que acreditam-se talentosos em sua rebeldia de shopping center, e conhecimento musical adquirido online.
É comum por aqui a noção de que "a cena não vai pra frente porque não há união." Ora, se interpretarmos a "cena" como um reflexo do estrato social em que foi gerada, é natural que não haja união! E depois, certas pessoas cujos rumos, escolhas, e cujas oportunidades que lhes foram presenteadas na vida, ganharam um nível de sucesso profissional e ascenção social muito superiores do que a maioria, acabam por se considerar dignos do luxo de exercerem seus hobbys de forma mais efetiva, e se propõem a exibir seu suposto e auto-proclamado "talento" (novamente, ênfase nas aspas) para um público que nunca teve senso crítico apurado, no que diz respeito à identificação de tendências e ideologias que possam contribuir para o crescimento intelectual do indivíduo. Em suma, uma geração de auto-proclamados artistas, medíocres por excelência, e que encontram público cativo entre pessoas tão ou até mais medíocres do que eles mesmos.
http://upload.stripgenerator.com/stripgenerator/strip/27/60/81/00/00/full.png
Sendo crias de uma classe média que nunca os julga desfavoravelmente, e tendo pais que aplaudem cada ato de "rebeldia criativa" de seus filhotes brancos e de sólida formação cristã, essa mesma geração de não-entidades, pautada pela auto-indulgência e falta crônica de uma cultura geral, se veste confortavelmente de seus estereótipos favoritos (algo que possam despir facilmente quando é necessário e oportuno) e vão às ruas reivindicar o que em outras épocas era a trincheira daqueles realmente talentosos e excluídos de todo um contexto de produção cultural devido à diversos fatores, como etnia, poder aquisitivo, acesso aos meios de comunicação, etc.
Não contentes com todas as facilidades que seus papais e mamães (e amigos de papai e mamãe) lhes garantiram na hora de passar de ano, dirigir carros antes da idade, entrar e sair da universidade sem maiores complicações e posições de destaque em empresas ou quaisquer outros empreendimentos, uso de drogas e álcool sem a menor moderação, essa classe média do rock também é fortemente caracterizada por uma total incapacidade de ouvir e/ou aceitar críticas, respondendo à elas (caso apareçam) de formas muitas vezes até exageradas, como ameaças e agressões físicas, além das costumeiras e pueris agressões verbais. De que adianta tanta educação (formal) e seus diplomas, seu orgulho de serem filhos ou netos de imigrantes europeus ou japoneses, seu suposto talento artístico (sobretudo musical), se jamais entenderam uma primordial característica humana, a sensibilidade estética: você pode até estar 100% certo de que o que faz é bom e lindo, mas nem todos vão concordar com você, pois não tiveram a mesma formação que você, e muitas vezes, são mais talentosos que você, independente dos seus instrumentos caros, que você não toca direito mas adora exibir para seus coleguinhas de mediocridade.
(Fim da parte 1...)